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terça-feira, 28 de agosto de 2012

Quem não é cego, tapa os olhos!

Hoje fui até a minha Unidade de Saúde pra conversar com a Autoridade Sanitária Local (que é isso?** - vou chamar de ASL). Meu objetivo: desvincular-me do Mater Dei, a maternidade com maior número de opiniões adversas e alertas para mães desesperadas de Curitiba. Embora eu não possa afirmar nada, né.

Chegando lá, encontro uma moça de uns 40 anos por aí (pra mim é moça! ok!) loirinha de cachinhos amistosos e olhos claros - quase pensei: é um anjo! Vai me ajudar! Senta lá, Jenifer... Não vou citar o nome.

Vou simplificar o diálogo aqui:

ASL: oi Jenifer, tudo bem? Qual o problema?

Eu: então, eu estou vinculada no Mater Dei, e logo depois que fiquei grávida, eu andei pesquisando muito, na internet, conversando com pessoas conhecidas que tiveram seus filhos lá, amigos, etc. E quase 90% dos comentários são: troque imediatamente! Troque já! Então assim, eu vou fazer a visita, mas muitas mães já me alertaram que na hora de perguntar e responder eles são super humanos, mas o atendimento é outra coisa, e eu andei pesquisando muito sobre parto natural e humanizado, e eu não quero que eu seja desrespeitada, entende. Quero meu parto com o menor número de intervenções possíveis, já fiz um plano de parto. Meu objetivo na verdade era trocar de maternidade lá pra Victor Ferreira do Amaral, que eu sei que é referência em humanização de parto.

ASL: Essas pessoas com quem você conversou, que idade tem os fihos agora?

Eu: entre 2 e 5 anos, acho...

ASL: Então, a Mater Dei mudou de direção, há dois anos, e hoje eles estão sob responsabilidade do Nossa Senhora das Graças, um hospital super respeitado, com atendimento bom. E eu vou falar por mim, eu tive 3 Partos Normais, e eu sei que o que precisa é de uma equipe. É a enfermagem, o médico e um ambiente bom pra você ter o seu filho. Agora veja, eu não consigo ver você direito daqui, mas eu vi que você é muito pequenininha... Talvez você tenha uma bacia tão pequena não dê pra fazer um parto normal, por causa que a sua bacia não vai permitir a saída da cabeça do bebê, né. Então aí seria um caso de Cesárea. E tem também o fato do mãe curitibana (explicou o programa todo) ... nós só poderíamos trocar você caso você apresentasse algum fator de risco, até a véspera do seu parto. E eu também, eu iria querer ter meus partos no Victor se eu pudesse escolher, mas lá é só para gestação de alto risco. O que acontece lá também é que em alguns casos, é o médico quem recomenda o parto na banheira - a mulher nesse caso tem que ter maturidade, e quem vai indicar é só o médico. Então assim, é uma roleta russa, você pode ter um bom atendimento tanto na Mater Dei quanto na Victor. Se você quiser voltar aqui depois de visitar a Mater Dei, a gente conversa, mas dê uma chance lá. Eu posso até trocar você, mas você pode estar tomando o leito de outra grávida, de risco, ou nem ter leito pra você quando você for pra lá, ficar no corredor, em maca, não sei, porque lá tá superlotado. A gente tem que ter o bom senso também. E assim, essas pessoas que falam de experiências ruins, é porque tem tempo, geralmente quem teve experiência boa guarda pra si e não sai por aí falando, vai cuidar do seu bebê, feliz.

Eu: uhum, ok, beleza. Eu vou fazer a visita mesmo, mas depois vou voltar aqui. Vou tentar essa semana ainda ir lá visitar. Eu preferia ter meu parto na victor de qualquer jeito, mas vamos ver...

ASL: isso, dê uma chance pra maternidade. E assim, fatalidade acontece em qualquer lugar, a gente sabe, e é sempre quando fazem mais alarde. E esse pessoal na internet, é bom que você saiba escolher bem as informações, ou melhor, se puder, nem leia! Eles só fazem terrorismo nas mulheres! Você não pode se desesperar agora, tem que pensar no que é melhor pro bebê, ok? Conversa com o GO na próxima consulta, ele vai poder te explicar algumas outras coisas melhor, tá?

Eu: ok, vou falar sim. Muito obrigada. *Sorriso simpático que só eu sei dar com meu aparelho e carinha de 16 anos*

ASL: e vá na visita ein? Tudo de bom, qualquer coisa é só vir conversar com a gente.

Eu: Obrigada, um bom dia. *sorrisinho de novo*

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Agora vamos aos fatos:

1. O que precisa é de uma equipe de qualidade: se só a direção do Hospital mudou, significa que o corpo do Hospital pode ter permanecido o mesmo, e os açougueiros de lá são os mesmo de 10 anos atrás.

2. Você é muito pequenininha: moça, minha mãe tem 1,56 m, e eu e minha irmã nascemos de parto normal. Antes de existir o SUS. E agora cláudia?

3. O médico indica o parto na banheira e a mulher tem que ter maturidade: me chamou de louca mimada de 14 anos criada a leite com pêra que não tem maturidade pra querer parir do jeito que quiser (!). E outra, desde quando existe indicação clínica específica pra parto na banheira, e desde quando isso é só pra mulher em gravidez de risco (se o Hospital é só pra gravidez de risco)?? Hãn, alguém explica?

4. Chamou as mães que sofreram violência obstétrica no Mater Dei de desocupadas que só querem saber de reclamar em vez de ir cuidar dos filhos: oi?

5. Chamou as mães que postam na internet coisas sérias, dicas importantes e outras coisas de Medicina Baseada em Evidências de loucas terroristas: oi? não, não repete, vai me dar crise alérgica...

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Depois de conversar com ela, ela mesma, que teve três partos normais, duvido que naturais, me deu uma vontade louca de perguntar se ela tinha passado por sorinho com ocitocina, manobra de kristeller, episiotomia não consentida, jejum prolongado e desnecessário no trabalho de parto, e agressão verbal. Mas resolvi que era muito pessoal. Só de uma coisa eu me convenci: as próprias mulheres que trabalham no SUS tapam seus olhos. Tapam seus olhos pra ver o absurdo que acontece dentro das maternidades por aí. E esse papo dela de "a maioria teve experiências boas e foi pra casa feliz" não me convence por um só motivo: muita mulher que é atendida dessa forma não PERCEBE a violência que tá sofrendo - acham que é normal. Acham que é normal o parto, uma coisa tão NORMAL (esse sim merece a atribuição dessa palavra), tão jurássica, tão fisiológica quanto ir ao banheiro - isso mesmo ¬¬ - tem que ser tratada como um caso de hospitalizar a mulher e ter um médico fazendo tudo que pode pra intervir na natureza. Além de interferir, também gera na mulher um trauma - minha mãe até hoje, quando eu falo "episiotomia" (ela já sabe o que é, depois de eu mencionar tanto que não quero) faz uma cara de quem tem muitos fantasmas e tristezas dentro de si. Tenho vontade de abraçar ela e ninar como se fosse ela minha filha, e não o contrário. Acho que é isso que o sistema de saúde precisava ver: a cara das mulheres que sofreram violência obstétrica, ao descobrirem que passaram por algo desnecessário - a cara do medo, da frustração e da tristeza que ficou pra vida toda.



Quem não é cego de verdade, enxerga, mas não quer ver. Tenta esconder a realidade, tenta convencer os outros do mundo cor-de-rosa perfeito, e tapa os olhos para o mundo e DO mundo! Essa é a nossa realidade.


** Autoridade Sanitária Local – além da chefia única para  a Unidade de Saúde, é o representante do poder público para o campo da saúde com responsabilidade sobre todo um território. Fonte.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Das últimas: placenta

Pois é pois é, a preguiça me pegou até pra escrever aqui.

Esses dias estive na unidade de saúde pra fazer minha consulta com a Ginecologista Obstetra (GO) e para minha surpresa ela não estava lá: fui atendida por uma enfermeira.
Até aí tudo bem, não fosse o fato de que uma enfermeira não consegue responder a todas as minhas dúvidas. Além do mais, a GO que estava me atendendo vai mudar de unidade, e vou passar a ser atendida pelo outro médico GO da mesma unidade (que eu não gosto, e foi por isso que preferi a médica que estava, e não ele, mas é isso ou ficar sem atendimento).

Saindo da unidade, perguntei pra enfermeira umas quatro vezes: mais alguma coisa? só isso mesmo? tudo certo, então?

A resposta foi que sim, mas cá estou eu sem a guia de agendamento de consulta do mês que vem, e vou ter que voltar na unidade para ver se não se "esqueceram" de mim.

Fora isso, fui ao SUS fazer outra ecografia pra verificar minha placenta. Depois de um tempão em pé e mais meia hora sentada esperando pelo médico que faz a ecografia, conseguimos ver o César (que continua sendo menino, hehe) muito rapidamente. E pelo resultado da ecografia deu tudo certo.

Minha placenta estava muito perto do cérvice (a "saída"), no laudo da primeira ecografia, o que poderia me impedir de fazer parto normal (e eu não quero fazer cesárea de jeito nenhum, porque tenho medo(s), haha). Neste último laudo, pelo que vi e entendi, está tudo normal.

O risco maior do posicionamento da placenta é quando ela é prévia: quando ela se implanta na parte inferior do útero e cobre uma parte ou totalmente o colo do útero. Nesse caso, não é recomendado parto normal (e nem é possível, quando cobre totalmente, pois a placenta está no caminho), e pode também haver risco de parto prematuro, além da hemorragia (nesses casos, a gestante geralmente é orientada a ficar em repouso absoluto).


Como a enfermeira explicou, mesmo estando próxima do cérvice, com o decorrer da gravidez, o útero cresce, estica, e a placenta acompanha, saindo do meio do caminho. Exceto quando ela cobre totalmente o colo.
Portanto, menos um medinho, já que isso não vai ser o motivo se eu tiver que fazer uma cesárea (:



Aliás: o César, às 26 semanas, tinha 31 cm e 750 gramas.