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segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Reflexão para César

Era quase como se eu fosse uma criminosa. Como se eu estivesse fazendo algo ilícito, por baixo dos panos, na surdina extrema, pra que ninguém me denunciasse, me condenasse, me desanimasse.
Mas antes de mais nada, o que eu estava tentando evitar é que deveria ser o crime. É o que deveria ser feito na surdina, mas que era escancaradamente parte do tratamento de milhares de mulheres e bebês que se sujeitavam (quer por desconhecimento, quer por falta de opção) às piores formas de tratar as primeiras horas de vida de um ser humano no mundo.

E então lá estava eu - por volta de 30 semanas, tendo um colapso por causa do SUS, por causa de cesáreas desnecessárias e intervenções mais desnecessárias ainda em "Partos Normais" - parto normal, aquele sonho de qualquer mulher que quer evitar a cirurgia cesárea, que quer voltar ao seu "normal" o mais rápido possível, sem precisar cuidar de pontos, sem precisar cuidar de cicatrizes... Onde foi parar você, parto normal?

É triste ver como o tratamento criminoso dado às mulheres que dão à luz, hoje, é "absolutamente normal". As mulheres estão tão acostumadas (acostumadas a acharem que seu corpo é defeituoso, acostumadas a achar que o médico é quem tem razão, acostumadas a ouvir que a opinião delas vale menos, acostumadas a serem deixadas em segundo plano...) com esse tipo de tratamento que simplesmente não enxergam a violência que sofrem num momento desses - ainda mais quando, em trabalho de parto, ou em se tratando de suas crias, são aterrorizadas pelas possibilidades de serem as culpadas pelo mal que pode ocorrer aos filhos, ficam vulneráveis.

Quem foi que disse que seu corpo é defeituoso? Quem incutiu na cabeça de nós, mulheres, que não podemos suportar a dor do parto? Que não podemos esperar até 42, 43 semanas de gestação porque nosso corpo é que foi defeituoso e não iniciou o trabalho de parto antes? Que nunca vamos parir porque não temos dilatação, não temos passagem? Quem nos deu esse atestado de incompetência tão bem aceito nos dias de hoje?

Os erros são tantos, criados por uma sociedade doente por achar doenças, por achar defeitos, que me dá medo de deixar meu filho num mundo louco desse. Aliás, esse era um dos motivos porque eu não queria ter filhos: como, ó Deus, meu filho vai viver nesse mundão de gente louca, insensível, desumana? Como? Num mundo em que o certo é errado de se fazer, e que o errado é o certo aceito e sendo praticado?
Depois que fiquei grávida: Como?

Deixai filhos melhores para o mundo. 
Espero que César, por mais que não encontre um mundo melhor quando nascer e quando começar a entender, seja mais uma sementinha de um mundo melhor. Que no futuro o certo seja o praticado aos quatro ventos, espalhado, cantado. 
Que o errado que se pratica hoje seja esquecido e jamais repetido.

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