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sábado, 3 de novembro de 2012

"Só me falaram das rosas, e não de seus espinhos"

Você olha praquela flor,
Sente o perfume,
Aprecia as diversas cores que pode ter. 
Observa como seu botão é delicado, e aos poucos, com o passar dos dias, vê ela desabrochar e ficar com as pétalas esparsas e bem distribuídas, uma perfeição que só a natureza, poderosa como sempre, poderia ter preparado.
Mas ninguém te falou dos espinhos... 
Ah, esses malandrinhos! 
Você quer tocar as pétalas aveludadas, mas ao se aproximar do caule da rosa, leva algumas agulhadas, fica com pontas de espinhos presas sob a pele. 
Nesse momento, você se atém ao caule. 
Aos espinhos. 
Às folhas que caíram ao redor do caule principal, dando lugar às folhas novas e saudáveis. 
Às lagartas, pulgões, fungos, que em alguns pontos castigaram a planta mãe, mas que em nada impediram o florescimento de uma magnífica rosa.


E assim vai ser na gravidez.
Você vai olhar as mães e suas barrigas e vai dizer "não vejo a hora de ser mãe, de engravidar"...
Mas ninguém vai te falar das estrias que podem ou não aparecer. 
Vão te falar dos cremes para evitá-las. 
Você vai ver a felicidade no rosto das gestantes, mas ninguém vai lhe falar das manchas que teve na pele do rosto quando ficou grávida. 
Ninguém vai lhe falar dos inchaços acompanhados de dores nas pernas. 
Nem da dor na bacia, que vem depois de trinta e tantas semanas de gravidez, da dor na pelve, do peso sobre a coluna, da falta de ar ao se deitar, da dificuldade para sair da cama nas últimas semanas, do sono estupendo nas primeiras semanas, da azia durante metade da gestação, da privação do seu doce preferido, da privação da sua bebida preferida, da privação das suas atividades físicas preferidas. 
Podem até perguntar "sente algo diferente? Sente tal sintoma?" durante a gravidez.
Mas antes de engravidar, ninguém lhe dirá nada disso...
E ninguém vai te falar de tudo isso porque o que mais importa é a vida que cresce dentro da mulher grávida. 
É o botão que cresce no ventre e desabrocha para a vida no parto.
É o perfume da criança que chega.
É a ocitocina que inunda o corpo da mãe, que faz com que ela não se importe com tudo isso se estiver bem conectada com seu bebê. E que faz com que a mãe esqueça de qualquer incômodo da gestação, lembrando apenas as coisas boas que a gestação trouxe à ela.

Eu senti o sono desregulado, as emoções à flor da pele, os enjôos e a azia do início da gestação. 
O ganho de peso, a azia contínua, as dores nas costas, o apetite que não cessa do meio da gestação.
O peso extra das últimas semanas, mais azia, mais dores nas costas, na pelve, na bacia, os inchaços nas pernas acompanhados de dor, o calor descompensado nesse calor já intenso e anormal da cidade, a ansiedade do final da gestação.

Tudo isso, depois, passa.

Também senti a diferença do tamanho da barriga entre uma semana e outra.
A mudança nos movimentos do bebê com o passar da gravidez.
Aproveitei para observar, nos primeiros meses, a barriga pulsando a todo vapor, enquanto a placenta se desenvolvia.
Aproveitei para apalpar junto com meu companheiro a barriga, buscando adivinhar em que posição ele estava.
Aproveitei a expectativa de fazer a primeira ultrassom e descobrir qual seria o sexo da criança.
Aproveitei os chutes e a movimentação pra pegar no meu bebê por cima da barriga, pra que ele sentisse que já era amado.
Aproveitei pra sentir a dor no colo, que significava que ele estava encaixando para o momento em que estiver pronto pra nascer.

Aproveitar enquanto meu filho ainda está aqui dentro, protegido e tão próximo de mim... isso só irá durar até o parto.
Atenho-me, então, ao que interessa. E não aos espinhos.


2 comentários:

  1. Lindo, querida! Os espinhos são nosso grande desafio! Passar por eles para chegar bem perto da flor não é caminho fácil, mas é recompensador. É, novamente, o milagre da vida. Isso é amor de MÃE! Entregar-se, mesmo sabendo que pode não ser fácil. Permitir-se, mesmo que o mundo vá contra você. Extasiar-se, mesmo sabendo que há alguém olhando.
    A rosa só é rosa porque tem espinhos! Com amor, uma mãe que sabe bem a dor da lança de um espinho!

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