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terça-feira, 4 de setembro de 2012

Eu x Episiotomia

Como já disse em posts anteriores, meu maior medo antes de engravidar era só um: o parto.
Depois de muitos medos novos serem esmagados nos últimos cinco meses, só restou um medo com o qual eu ainda conseguia acordar meu namorado de manhã e começar a chorar igual um bebê: o parto.

Acho que toda mulher deve ficar pensando: como é que aquela coisa fofa, com carinha de joelho e cheia de dobrinhas vai sair por AQUI? (E esse aqui vocês sabem muito bem que do que se trata, né).
Outras podem pensar assim e depois se sentir aliviadas: "ainda bem que vou fazer cesárea! Não quero sofrer no parto, nem pensar..."
Como já disse antes, não quero cesárea, e dei os motivos. É parto normal e ponto, até que me digam que minha vida e do César dependem de outra coisa que não seja isso.

Fui procurar mais sobre o parto normal. Descobri milhares de posições do parto: de cócoras, deitada, levemente deitada, na água, etc. Parto em casa, parto no hospital, casas de parto. E descobrindo, pesquisando e fuçando, eu descobri a Episiotomia.

Episiotomia?
Se vocês forem no Google pesquisar "Episiotomia" vão descobrir que se trata nada mais nada menos do que um corte que os médicos têm o costume de fazer na mulher pra facilitar a saída do bebê. Exatamente isso que você leu: eles têm o costume de fazer. Mas peraí, não era parto normal, em que a gente simplesmente faz força e poft, nasceu?
Depois disso eles dão o famoso "ponto do marido", pra fechar igualzinho ao que era antes (igualzinho?). Eu, procurando saber melhor do porquê desse procedimento, acabei dando de cara com artigos recentes que diziam: a episiotomia de rotina é ERRADO, mas mesmo assim, continua sendo "de rotina" em muitos hospitais, para muitos médicos, etc. 
E porque é errado? Vou listar algumas referências no final da postagem, mas vamos agora aos fatos.

A episiotomia é "recomendada", sem evidências médicas, para prevenir lacerações graves no períneo da mulher, para evitar lesão irreversível do assoalho pélvico da mulher e evitar incontinência urinária pós-parto, e claro, para facilitar a saída do bebê. Nenhuma dessas recomendações tem embasamento científico, e as lacerações de pior grau ocorrem justamente naquelas mulheres que sofrem episiotomia (além de ter maior incidência de complicações como infecções). Isto porque a elasticidade própria da região do períneo é, na maioria esmagadora dos casos, suficiente para que o bebê nasça sem gerar maiores problemas para a parturiente.

Quanto ao "igualzinho ao que era antes": quem garante? A episiotomia pode ter um corte de até aproximadamente 7 cm (e não vai ter médico com régua medindo sete centímetros para te cortar, ele vai chutar o tamanho, e se for 10cm ou 6cm tanto faz). Esse corte feito desnecessariamente pode causar, em algumas mulheres, desconfortos que duram a vida toda, inclusive podendo causar problemas para manter relações sexuais. Conversando sobre isso com uma mulher que teve episiotomia há mais de 15 anos, ela disse "sim, depois fica com defeito, como eu fiquei!". Com defeito... Imagine você pensar em você mesma como estando com defeito por mais de 15 anos? A cicatrização também é mais difícil, já que foi um corte total dos tecidos, e não uma lesão natural (quando o parto normal causa laceração, a cicatrização ainda é mais rápida que da episiotomia).

Além disso, a maior parte das vezes em que ela acontece, o médico não informa a mulher sobre o procedimento, simplesmente o faz. Ou seja, você que chegar na sala de parto totalmente desinformada, vai ter que engolir tudo que o médico disser e fizer, vai sofrer uma violência obstétrica, uma violação do seu corpo (SEU corpo) e isso está tudo muito normal, obrigada. Mas é claro que pro médico é muito mais fácil fazer a episiotomia e diminuir o tempo da fase expulsiva do parto de 50 minutos pra 10 minutos.

Depois de descobrir tudo isso, eu já estava querendo sentar e chorar de novo. Eu ia ser aberta de qualquer jeito, onde é que estava meu direito de dizer: não, eu não quero ser cortada em lugar nenhum, obrigada?

Pesquisei no google e revirei cada canto de fórum, blog, site, sites oficiais de ministérios de saúde (fui parar no de Portugal!) atrás dos direitos que as mulheres gestantes tinham de escolher entre fazer ou não a episiotomia. Acabei descobrindo mais sobre o parto humanizado também, sobre o qual vou falar em outro post. A verdade é que não encontrei nada que me ajudasse, e quase em todo lugar se falava da episiotomia como se fosse a coisa mais normal do mundo: inclusive como se fosse extremamente necessário. 

Pra mim, não é.
Pra Medicina Baseada em Evidências, também não

A partir dessas pesquisas, descobri um novo jeito de dar a luz: eu fazer o parto. 

"Como assim? Não é o médico que faz o parto?"
Não precisa nem de resposta, basta apenas refletir:
Quem engravidou, em primeiro lugar? Quem vai sentir as contrações no trabalho de parto, e as dores? Quem vai precisar fazer força, respirar, ter forças, etc, na hora de expulsar o bebê do útero?
O médico e a equipe estão ali apenas para auxiliar e prevenir possíveis complicações - as intervenções inventadas através do último século para "Facilitar" o parto... essas são totalmente dispensáveis, até que se prove que mãe ou criança correm riscos.

A minha imagem de parto era bem aquela de novela: a mulher deitada e o médico mandando ela fazer as coisas, sem ter voz nenhuma perante a autoridade de saúde presente. Agora, estou decidida a fazer do meu parto o que eu quiser (e puder), mesmo dependendo de SUS. Apesar das novas práticas implantadas no SUS, como a Rede Cegonha e o Humaniza SUS, a maior parte das informações sobre a humanização do parto se restringe a permitir acompanhante para a gestante (e só um) e um atendimento mais humano (que é muito subjetivo). Uma cartilha que encontrei esses dias no grupo do Facebook sobre parto, e que era justamente da Rede Cegonha, instruía os médicos sobre as desvantagens da episiotomia e muitas outras coisas... Adivinha se você encontra essa cartilha facilmente na internet? Adivinha se algum médico leu essa cartilha de cabo a rabo no SUS?
Por isso informação é tão essencial: uma coisa é ir pra forca sabendo que cometeu o crime, outra coisa é ir pra forca "porque sim" (nesse caso - ir pra faca né).




Para quem quer saber mais sobre a tal episiotmia e o porquê de você não querer e nem precisar dela, aí estão alguns links:

http://www.scielo.br/pdf/rbgo/v29n1/a01v29n1.pdf
http://www.amigasdoparto.com.br/episiotomia3.html
http://www.febrasgo.org.br/arquivos/femina/Femina2010/fevereiro/Femina_v38n5/Femina_v38n5p265-70.pdf

Recomendo também o Blog da médica Melania Amorim - listado ali do lado (Estuda Melania, Estuda!): uma médica que não faz episiotomia nas parturientes que atende há muitos anos e descobriu na prática como esse é o melhor jeito pra uma mulher ter o filho.
É disso que o SUS precisa - e a rede privada também, com suas cesáreas desnecessárias - hoje: médicos realmente conscientes e comprometidos com a saúde dos pacientes (e não preocupados com a agenda e quanto estão ganhando com os partos que induzem, aceleram, antecipam, etc).


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