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quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Da definição de dor

"A dor é definida como uma experiência sensorial e emocional desagradável,associada a um dano tissular real ou potencial ou descrita em termos de tal dano".



Estava hoje na aula de farmacologia, e iniciamos o estudo da dor, um dos sinais principais da resposta inflamatória (apesar de não estar presente só nela).
A frase acima, que define dor, me chamou a atenção por si só, uma vez que é uma definição bem consolidada cientificamente, e também pelo exemplo que o professor utilizou depois.

"Uma mulher que sente dor ao dar à luz sentirá muito menos dor do que se eu dissesse a esta mesma mulher que o que ela tem em uma das mamas é um tumor. Ela sente menos dor no parto, ou essa dor se torna bem mais suportável, pois o prognóstico é o nascimento de uma criança. Ela sente mais dor no tumor, pois o prognóstico pode ser ruim, já que ela está doente".

Não sei qual o enfoque dado na dor nas aulas de medicina, e outros cursos em geral, mas se até nas aulas de graduação isso é colocado - ou seja, que a dor tem um importante aporte do EMOCIONAL da pessoa - não consigo entender como ainda hoje o atendimento obstétrico em muitos países, no Brasil principalmente, ignora o fato de que a mulher em ambiente hospitalar, sendo tocada o tempo todo, examinada, sem acompanhante, sendo tratada definitivamente de modo a deixar seu emocional totalmente abalado, é um dos fatores que leva as mulheres a se entregarem aos métodos analgésicos medicamentosos, que seriam totalmente desnecessários se ela estivesse num ambiente que privilegiasse o seu emocional e seu controle sobre a própria dor.

Os métodos de analgesia podem sim ser usados pelas mulheres que desejarem, mas seria interessante que elas soubessem todos os seus efeitos sobre ela e sobre o bebê, e quais as alternativas a eles. 
Muitas mulheres deixam de sentir os puxos e o trabalho de parto estaciona devido à analgesia. Muitas mulheres, por não saber exatamente quando fazer força ao estarem em estado de analgesia, fazem uma força tremenda no expulsivo e dilaceram o períneo. Muitas mulheres ficam restritas ao leito, sem poder se movimentar, devido aos métodos de analgesia que limitam os movimentos das pernas. Qualquer anestesiamento da mulher, assim como medicamentos analgésicos, irá sim afetar a criança, em menor ou maior grau - o que significa que bebês paridos sem que a mãe esteja medicada com métodos analgésicos sejam muito mais atentas no momento em que nascem, o que facilita a criação do vínculo mãe-recém nascido assim que a criança sai do útero.

Nenhuma dessas informações normalmente são passadas às parturientes que chegam aos hospitais já assombradas pela visão atual de parto e trabalho de parto (que é um sofrimento, que é um sacrifício, que dói e é apavorante). E se aplicam anestesias e sorinhos com analgésicos às mães, e elas nada sabem. Estranham quando o trabalho de parto para, decepcionam-se pois vão para uma cesárea e dizem que não foram capazes de parir. 
A dor então se torna outra - aquela que não se relaciona com dano tecidual nenhum, mas aquela que fica entalhada no espírito...

Um comentário:

  1. Pimenta, PET Farmácia UNESP/Araraquara.26 de setembro de 2012 às 02:31

    Melhor, impossível, petiana!!!! Parabéns! Bj...

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